Os tempos mudaram e a Sessão da Tarde clássica, como a conhecemos lá nas décadas de 1980 e 1990, não vai voltar, mas permanece na memória afetiva do público 40+
De tão incorporada ao nosso cotidiano, a Sessão da Tarde parece ter sempre existido. Desde a década de 1970, crianças, jovens e adultos acompanharam os filmes que a Rede Globo exibia de segunda a sexta na sessão.

Em 2014 o programa passou por uma reformulação que modificou até sua vinheta clássica. Para levantar a audiência do horário, a Globo retomou os filmes que todos adoravam assistir nas tardes dos anos 1990. Parece que a resposta do público foi positiva, embora não o suficiente para tirar o programa da lista de possíveis cortes. Com o tempo, a TV paga e a internet desviaram a atenção do público, que já não se interessa mais por filmes na TV aberta.

Vez por outra surgem especulações sobre o provável fim da Sessão da Tarde. De qualquer forma, é como se o fim já tivesse acontecido há anos. Os filmes exibidos antigamente — divertidos, interessantes e de temas variados — foram gradativamente substituídos por filmes bobos e inexpressivos.

Quando eu era criança, quase quarenta anos atrás, a Sessão da Tarde era um programa e tanto. Mas qual a criança que, hoje em dia, sequer sabe o que é Sessão da Tarde? Costumava-se ver filmes deliciosos da Disney como Aquele Gato Danado (That Darn Cat!, 1965), O Tesouro de Matecumbe (Treasure of Matecumbe, 1976), Candleshoe – O Segredo da Mansão (Candleshoe, 1977), Se Eu Fosse a Minha Mãe (Freaky Friday, 1977)… Vários deles protagonizados por uma Jodie Foster ainda adolescente. Sem falar nos filmes do cãozinho Benji. Mas histórias de suspense também tinham vez, assim como dramas, comédias e musicais. E eram filmes bons, que agradavam a um público vasto.

Como não lembrar das tantas tardes em companhia de filmes como A Lagoa Azul (The Blue Lagoon, 1980), O Corcel Negro (The Black Stallion, 1979), Os Goonies (The Goonies, 1985), Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986), Conta Comigo (Stand by Me, 1986), Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986), Um Salto Para a Felicidade (Overboard, 1987), Cuidado Com as Gêmeas (Big Business, 1988), A Volta de Roxy Carmichael (Welcome Home, Roxy Carmichael, 1990), Minha Mãe É Uma Sereia (Mermaids, 1990) e inúmeros outros?
Para a minha geração (que já passou dos 40), é estranho pensar que a Sessão da Tarde pode perder seu espaço na grade vespertina da Globo. A audiência não é a mesma de 20 ou 30 anos atrás. O programa merecia uma turbinada em seu pacote de filmes.

O excesso de reprises nos anos 2000 deveu-se, principalmente, à Classificação Indicativa. Desde 2008, nenhuma emissora aberta pode exibir filmes nesse horário cuja classificação seja para maiores de 14 anos. A Globo precisou se adequar à nova regulamentação e exibir apenas filmes com classificação livre para maiores de 10 anos.

Tudo bem que filmes como Porky’s (1980), Tubarão (Jaws, 1975) ou Uma Professora Muito Especial (Private Lessons, 1981) jamais fariam parte da Sessão da Tarde nos dias de hoje. Os tempos mudaram.
Ainda assim, a Globo foi capaz de selecionar longas amados pelos telespectadores na primeira metade da década de 2010, como A Família Addams (The Addams Family, 1991), Dirty Dancing – Ritmo Quente (Dirty Dancing, 1987) e Meu Primeiro Amor (My Girl, 1991).
A Sessão da Tarde clássica, como a assistíamos nas décadas de 1980 e 1990, não vai voltar. Mas permanece na memória afetiva do público como uma das mais bem-sucedidas sessões de filmes da TV aberta.