Antro de Milionários (Haunts of the Very Rich, 1972) 


Ilha da Fantasia (só que não): um daqueles irresistíveis e desbotados telefilmes das madrugadas, esquecido há tempos

Um grupo de turistas grã-finos voa para um misterioso resort paradisíaco, o Portals of Eden. Recebidos por Seacrist (Moses Gunn), espécie de mordomo e anfitrião, os ricos visitantes passam o tempo relaxando e sendo paparicados no referido paraíso tropical. Mas após a primeira noite, uma grande tempestade deixa os hóspedes isolados na ilha onde se situa o hotel, sem energia elétrica e sem comunicação com o mundo externo.

Para piorar, a equipe de funcionários do resort — formada por nativos da própria ilha — também desaparece, deixando os visitantes abandonados à própria sorte, cheios de mistérios e perguntas sem resposta. Logo se dão conta de que podem estar muito perto da morte e precisam se organizar para pensar em um meio de buscar socorro. A comida está estragando, a água potável acabando e as tensões crescem entre os hóspedes, assim como as suspeitas mútuas.

Nesse contexto, os problemas de cada um começam a emergir. Dave Woodrough (Lloyd Bridges), por exemplo, é um mulherengo de meia-idade, à procura de mais uma conquista. O alvo escolhido dessa vez foi Ellen Blunt (Cloris Leachman) solteirona carente e preocupada com a própria aparência. O reverendo John Fellows (Robert Reed) é um homem atormentado por conflitos em sua espiritualidade e fé. Annette Larrier (Anne Francis) é uma esposa infeliz, viciada em antidepressivos e estimulantes. Al Hunsicker (Edward Asner) tem um passado duvidoso e por aí vai. No decorrer da história, também ficamos sabendo que cada um dos “convidados”, direta ou indiretamente, escapou da morte por pouco. Coincidência?

Edward Asner

Os veteranos Lloyd Bridges e Cloris Leachman encabeçam o elenco, que conta também com figurinhas fáceis das produções televisivas americanas como Tony Bill, Robert Reed e Donna Mills.

Cloris Leachman
Lloyd Bridges
Donna Mills e Tony Bill

O diretor, Paul Wendkos (1925-2009), era mestre na direção de séries de tevê (Havaí 5-0Dr. KildareOs Intocáveis, entre muitas outras) e um dos pioneiros a fazer carreira na direção de telefilmes, com um currículo que inclui A Irmandade do Sino (The Brotherhood of the Bell, 1970), A Morte da Inocência (A Death of Innocence, 1971), Terror na Praia (Terror on the Beach, 1973), A Lenda de Lizzie Borden (The Legend of Lizzie Borden, 1975) e muitos outros.

No cinema, dirigiu, entre outros, Balada Para Satã (The Mephisto Waltz, 1971), estrelado por Alan Alda e Jacqueline Bisset. 

Paul Wendkos em 1957, quando se mudou para Hollywood

Antro de Milionários não chega a ser um clássico dos telefilmes, mas tem uma premissa interessante e atuações convincentes, além de similaridades com a série Lost (2004-2010). A história hoje pode estar meio batida, mas não deixa de ser divertido assistir a um telefilme simples, capaz de prender o telespectador em um clima de medo e espanto até o final surpreendente.

Antro de Milionários estreou na tevê americana em 20 setembro de 1972, no canal ABC, e foi bastante reprisado ao longo daquela década. Aqui no Brasil, foi exibido pela primeira vez na Globo, em 14 de abril de 1973, e também foi muito reprisado durante os anos 1970.

O Globo, 8 de maio de 1975

Algumas sinopses de Antro de Milionários publicadas nas seções de filmes da TV, da Folha de S. Paulo, na década de 1970: 

“Um filme recente, já nos circuitos fechados da TV. Trata-se da história de sete pessoas em férias, numa ilha tropical, e o comportamento que cada um assume quando as situações começam a ser marcadas pela violência.” (Folha de S. Paulo, 24/07/1974) 

“Teledrama do tarimbado Wendkos. Ação ambientada num ‘idílico refúgio tropical’, com pessoas vendo seu sonho se transformar  em pesadelo.” (Folha de S. Paulo, 02/03/1979)

Lançado em VHS nos EUA, na década de 1980.


QUEM SOU EU

Daniel Couri, formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília, fã de cultura pop e autor dos livros Made in Suécia – O Paraíso Pop do ABBA (Página Nova, 2008) e Mamma Mia! (Panda Books, 2011). 

danielcouri@obscuradoria.com.br