A Fortaleza (Fortress, 1985)


Um thriller para a TV que continua tenso e assustador mesmo depois de quatro décadas

Muitas crianças dos anos 1980 devem ter ficado com trauma de Papai Noel. Eu, pelo menos, passei alguns anos atormentado pela lembrança da figura do “bom velhinho”. Não por ele em si, mas por causa de A Fortaleza (Fortress, 1985), filme marcante na tevê, ao longo daquela década. Difícil esquecer-se dele após assisti-lo.

Em uma cidadezinha do interior australiano, a jovem Sally Jones (Rachel Ward, em atuação sensacional) é professora de uma pequena escola mista (a classe tem alunos de idades variadas). Sally é sequestrada com sua turma por um grupo de bandidos usando máscaras (Papai Noel, Gato, Rato e Pato). Levados para um local totalmente ermo, a professora e seus pequenos alunos terão que lutar pela sobrevivência em meio à truculência e à crueldade dos sequestradores. Ao longo da história, a tensão é enorme e impressiona muito, especialmente por se tratar de um filme feito para a TV (embora não pareça).

Interessante notar a gradual transformação pela qual a professora e seus alunos passam. Vítimas acuadas, eles precisam encontrar coragem para lutar por seu salvamento. O filme não dá folga: é um susto atrás do outro, em um clima de apreensão e nervosismo constantes. Prefiro não dar muitos detalhes para não estragar as surpresas e os sustos. O melhor mesmo é assisti-lo.

E pensar que 30 anos atrás, as crianças podiam assistir a esse tipo de filme na Sessão da Tarde, numa boa, sem ninguém achar estranho. Lembro de tê-lo assistido pela primeira vez na Globo, à noite, ainda na década de 1980, com minha mãe. Eu devia ter uns 7 ou 8 anos. Depois ele foi exibido na Sessão da Tarde, antes de migrar para o SBT, onde foi muito reprisado ao longo dos anos 1990.

Dirigido pelo australiano Arch Nicholson, A Fortaleza foi baseado no livro Fortress, de Gabrielle Lord, que por sua vez foi livremente inspirado no sequestro real ocorrido em Faraday, zona rural ao noroeste de Melbourne, na Austrália.

O caso, que ficou conhecido na época como “o sequestro da escola de Faraday”, aconteceu em outubro de 1972. Uma professora e sua turma de alunas pequenas foi raptada por Edwin John Eastwood e Robert Clyde Boland. O resgate pedido era de um milhão de dólares. Felizmente as vítimas conseguiram escapar e os criminosos foram capturados, condenados e presos. A Faraday School foi fechada em 1976. Mas Eastwood escapou da prisão e repetiu o crime com outra professora e sua classe, em 1977. Depois foi novamente capturado.

Voltando ao telefilme em questão, a convivência e o empenho da professora com seus pupilos, no decorrer de todo o filme, é um exemplo inquestionável de que a união pode, de fato, significar a força.

Rachel Ward está ótima no papel da professora. A atriz havia explodido em 1983, ao estrelar, ao lado de Richard Chamberlain, a minissérie Pássaros Feridos (The Thorn Birds), pela qual foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para Televisão.

Rachel Ward

Em 1984, estrelou Paixões Violentas (Against All Odds) com Jeff Bridges. Em 1985, depois de filmar A Fortaleza, afastou-se temporariamente do cinema para estudar atuação. Em 1987, retomou a carreira com Paixões Sem Limite (The Umbrella Woman / The Good Wife).

Em A Fortaleza, o bando de sádicos sequestradores — em especial o Papai Noel, líder do grupo — é o que assusta o telespectador. O ator Peter Hehir, que usa a máscara de Papai Noel durante praticamente todo o filme, é a personificação do horror. Exatamente por ser humano, o personagem é muito mais apavorante do que monstros e espíritos de filmes de terror. E ainda foi inspirado em uma pessoa real.

A Fortaleza estreou na TV americana em 24 de novembro de 1985, no canal a cabo HBO. Em 1986, foi lançado nos cinemas australianos. Na TV brasileira, estreou em 6 de junho de 1988, na Tela Quente, da Globo. 

Os Filmes de Hoje na TV (Paulo Perdigão)
O Globo, 6 de junho de 1988

No Brasil, o filme foi lançado em vídeo com o título Sequestrados.


QUEM SOU EU

Daniel Couri, formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília, fã de cultura pop e autor dos livros Made in Suécia – O Paraíso Pop do ABBA (Página Nova, 2008) e Mamma Mia! (Panda Books, 2011). 

danielcouri@obscuradoria.com.br