Coleção de livros interativos infantojuvenis foi uma das mais populares dos anos 1980 e 1990
“Se você escolher lutar, vire para a página 21.
Se escolher blefar, página 32 então.”
“Se concordar com Simone, volta à página 4.
Se preferir o plano de Raoul, volte à 6.”
“Se você tira fotos, tire na página 92.
Se recua para dentro do bosque, embrenhe-se na página 94.”
Decisões aparentemente simples, mas que podem levar o rumo da história para os mais diversos caminhos. Alguns até catastróficos. Mas todos extremamente divertidos.
Assim eram os gamebooks da série Enrola e Desenrola. A coleção, publicada no Brasil pela Ediouro (a mesma que publica as palavras cruzadas Coquetel), atravessou toda a década de 1980 e foi muito popular até meados dos anos 1990.

Era um novo gênero de livros infantojuvenis e um novo tipo de estrutura narrativa, que estimulava a imaginação dos jovens leitores e os instigava a querer ler mais e mais, já que eles tinham um certo controle das histórias. E como elas tinham dezenas de finais diferentes, lia-se o livro várias vezes para ver o que aconteceria se uma decisão tivesse sido tomada no lugar de outras.

Com a colaboração de tradutores gabaritados como Orígenes Lessa (um dos imortais da Academia Brasileira de Letras), a Ediouro começou a publicar a coleção Enrola e Desenrola no Brasil. A coleção original, Choose Your Own Adventure, americana, era publicada pela Bantam Books (hoje pertencente à Random House). Esses livros foram os precursores dos RPGs, mas com a diferença de não dependerem de outros participantes para o “jogo”.


Cada livro tinha um tema principal: uma casa mal-assombrada, um passeio no deserto, espionagem de guerra, uma viagem espacial etc. As histórias variavam entre mistério, aventura e ficção científica. Seguindo a narrativa, o leitor se deparava constantemente com decisões que ele mesmo deveria tomar e, dessa forma, decidir qual o caminho a ser seguido. Uma divertida incursão na ficção interativa para a garotada.
O primeiro que comprei foi Sabotagem, mas meu favorito era Quem Matou Harold Taylor?, pois eu já era apaixonado por histórias de detetive desde a pré-adolescência. Ainda hoje a coleção é lembrada como uma das mais populares para crianças dos anos 1980 e 1990. Vendeu mais de 250 milhões de cópias entre 1979 e 1998. Era uma diversão acessível, empolgante e só dependia de uma coisa: vontade de ler. Com a atual profusão de apetrechos digitais e tecnológicos, esses livros, hoje, dificilmente empolgariam a meninada como empolgou minha geração.


Edward Packard, autor que abriu a série com A Gruta do Tempo (The Cave of Time), escreveu vários outros títulos para a coleção (Nome de Código: Jonas, Quem Matou Harold Taylor?, A Casa Mal-Assombrada etc.). Em 2010, ele abriu uma nova empresa, a U-Ventures, lançando aplicativos no estilo dos livros Choose Your Own Adventure, para iPhone e iPad. Os aplicativos são baseados em alguns livros do próprio Packard. O primeiro título lançado foi Return to the Cave of Time, espécie de continuação da história que inaugurou a série impressa no começo dos anos 1980.

Na década de 1990, a série enfrentou a concorrência com os jogos de computador e perdeu força até ser descontinuada, em 1999. Em 2006, foi relançada por uma nova editora, a Chooseco.

Em 2018, a Z-Man Games lançou um jogo de tabuleiro chamado Choose Your Own Adventure: House of Danger, inspirado no livro de R. A. Montgomery, da série.

Em 2019, a Chooseco abriu um processo contra a Netflix por violação de direitos autorais, pelo filme interativo Black Mirror: Bandersnatch (2018). No longa, o protagonista é um jovem programador que trabalha para criar um jogo de computador inspirado em um livro no estilo “escolha sua própria aventura”. A Netflix e a Chooseco chegaram a um acordo em 2020, encerrando o processo.