A casa que roubava as cenas


Binfield Manor, a casa que tanto me chamou a atenção em vários filmes da década de 1970

Ainda na adolescência, eu costumava assistir incessantemente aos mesmos filmes, hábito que – confesso – ainda mantenho. Se fosse de suspense, então, era diversão e prazer em dobro. Sempre gostei de ver e rever meus filmes favoritos inúmeras vezes. Os anos passam e sigo com meu pequeno prazer, que sempre me empolga (mesmo que eu já conheça o filme de cor e salteado).

Foi assim que o cenário de quatro filmes começou a me intrigar. Quando tinha uns 15 anos, peguei na videolocadora um filme britânico chamado Terror Cego (Blind Terror / See No Evil, 1971). Suspense de primeira com Mia Farrow no papel de uma cega que passa o pão que o diabo amassou para escapar de um maníaco assassino em uma mansão isolada.

Mia Farrow em Terror Cego (1971)

O cenário é belíssimo, em Berkshire, sudeste da Inglaterra. Bracknell Forest com suas paisagens idílicas e cores lindas. Perfeito para uma jovem indefesa sofrer enquanto luta para não ser assassinada. Mas o interior da mansão também é muito bonito e tem arquitetura e decoração bem marcantes. Tanto o exterior quanto o interior foram muito bem explorados na construção do suspense e do drama do filme.

Pois bem, algum tempo depois assisti na TV a outro filme mais ou menos da mesma época, Sombras na Escada  (The Spiral Staircase, 1975), refilmagem de um suspense preto-e-branco dos anos 1940. Dessa vez, a jovem indefesa — porém muda, e não cega — foi Jacqueline Bisset. E qual não foi minha surpresa ao notar que a casa do filme era A MESMA de Terror Cego! Se não chega a ser tão bom quanto o primeiro, Sombras na Escada também garante alguns momentos de suspense. 

Jacqueline Bisset em Sombras na Escada (1975)

Mas se uma vez é pouco, duas é bom, então três é demais. Novamente, mais ou menos na mesma época, me apaixonei por um outro filme que vi na TV, Terror e Loucura (Tales That Witness Madness, 1973), muito reprisado pela extinta Manchete. E eis que, para minha surpresa, de novo, aparece a mesma casa.

O filme era uma daquelas antologias irresistíveis da Amicus (produtora britânica de filmes de terror), muito comuns no começo dos anos 1970, com quatro ou cinco histórias de terror. Foi lançado em vídeo com o título de Testemunhas da Loucura. A casa em questão aparece no último episódio, “Luau”, com Kim Novak.

Com o passar dos anos, revi os três filmes dezenas de vezes e fiquei com os cenários bem nítidos na memória. Com certeza era a mesma casa. Por dentro e por fora. A cada filme, o interior passava por algumas pequenas modificações. Um papel de parede aqui, um jarro de flor ali, uma poltrona diferente acolá. Mas era nitidamente a mesma casa, com portas altas em forma de arco.

Anos depois, deparei-me novamente com a mesma casa (pela quarta vez!), agora no filme O Garanhão e a Prostituta (The Stud, 1978), com Joan Collins, baseado no romance O Garanhão, da irmã de Joan, Jackie Collins. Uma canastrice pretensamente sexy. Na verdade, um pretexto para cenas calientes protagonizadas por Joan, ao som da disco music da época. 

Mas não parou por aí. Novamente, mais um tempo depois, deparei-me com a casa no telefilme É Fácil Matar (Murder Is Easy, 1982). A casa me perseguia. Não podia ser simplesmente um cenário. Pelo jeito, era um local de verdade.

Pesquisando na internet, tive a confirmação de que a casa existe de verdade, não é um estúdio. Trata-se de Binfield Manor e, segundo minhas pesquisas nos sites da vida, a mansão, construída em 1776 no coração de Berkshire, sudeste da Inglaterra, chegou a pertencer ao Sultão de Brunei nos anos 2000.

Binfield Manor em 1974

Depois descobri que Binfield Manor já havia servido de locação para vários episódios da série britânica Os Vingadores (The Avengers, 1961-1969).

Atualmente, segundo o site britânico Beechcroft (especializado em venda de imóveis de luxo para aposentados) a casa original foi convertida em nove apartamentos de um e dois quartos, com nove novas propriedades construídas no local, complementando o edifício original.

Binfield Manor na década de 1970
O Garanhão e a Prostituta (The Stud, 1978)

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

QUEM SOU EU

Daniel Couri, formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília, fã de cultura pop e autor dos livros Made in Suécia – O Paraíso Pop do ABBA (Página Nova, 2008) e Mamma Mia! (Panda Books, 2011). 

danielcouri@obscuradoria.com.br

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x