Feito para a TV


John Llewellyn Moxey dirigiu vários telefilmes clássicos e séries cultuadas, fez história nas TVs britânica e americana, mas permanece (injustamente) esquecido

Como fã de filmes americanos feitos para a TV (os populares “made for TV” ou “TV movies”, no Brasil chamados de telefilmes), conheci desde cedo o trabalho de alguns diretores que fizeram carreira nessa área e dominaram a técnica desse formato. Um dos grandes nomes dessa turma é, sem dúvida, o subestimado John Llewellyn Moxey. 

Diretor de filmes de sucesso para a TV entre as década de 1960 e 1980, Moxey pode não ter um nome conhecido aqui no Brasil, mas certamente quem já assistia televisão algumas décadas atrás deve ter visto ao menos meia dúzia de seus filmes, ou mesmo episódios de inúmeras e consagradas séries dirigidos por ele.

John Llewellyn Moxey

Naturalizado britânico, Moxey nasceu em 26 de fevereiro de 1925, na Argentina. Na época, o pai trabalhava nos negócios da família, com aço e carvão, na América do Sul. Depois de servir nas forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial, Moxey resolveu entrar para o ramo dos filmes. Após trabalhar como editor, dirigiu vários episódios da série inglesa London Playhouse, seguida por outro programa, The Adventures of Tugboat Annie.

John Llewellyn Moxey (à esquerda)

Sob o nome de “John Moxey”, o diretor partiu para o que se tornaria seu projeto mais aclamado: A Cidade dos Mortos (The City of the Dead, 1960), também conhecido como Horror Hotel, filme de terror de baixo orçamento estrelado por Christopher Lee, então recém-descoberto pela Hammer (lendária produtora britânica de filmes de terror).

Patricia Jessell e Christopher Lee em A Cidade dos Mortos

Para uma estreia, City of the Dead fez bonito e influenciou mais diretores do que se poderia imaginar. Muita gente até notou similaridades com o clássico Psicose (Psycho), de Alfred Hitchcock, lançado naquele mesmo ano. O sucesso do filme levou Moxey a dirigir vários outros trabalhos ao longo dos anos 1960, a maioria para a televisão britânica. Entre eles estava a cultuada série de espionagem Os Vingadores (The Avengers, 1961-1969).

Patrick Macnee e Diana Rigg em Os Vingadores

No fim daquela década, começou a usar o nome do meio (Llewellyn), por influência da numerologia, e entrou em uma fase extremamente prolífica. Tornou-se um dos diretores mais populares da sessão de filmes para a TV Movie of The Week, da rede de TV norte-americana ABC. De 1969 a 1975, a emissora exibia semanalmente um filme especialmente feito para o canal.

O diretor em meados da década de 1970

Volte Ammie, Volte! (The House That Would Not Die,1970) foi o primeiro dos dois projetos do diretor com a premiada atriz Barbara Stanwyck e também o começo de uma longa parceria com os produtores Aaron Spelling e Leonard Goldberg. A década de 1970 não poderia ter sido mais produtiva para Moxey. Entre um filme e outro, ele ainda encontrava tempo para dirigir episódios da maioria das séries policiais como Hawaii Five-OThe Mod SquadPolice Story e Shaft, entre várias outras daquela época em diante (Missão ImpossívelKung FuMagnumMiami Vice etc.).

Volte Ammie, Volte! (The House That Would Not Die,1970)

Cada vez mais especialista em filmes de suspense, às vezes lidando com o sobrenatural, outras com a trama policial, em 1972 Moxey dirigiu um de seus maiores sucessos na TV: Pânico e Morte na Cidade (The Night Stalker, 1972).

Pânico e Morte na Cidade (The Night Stalker, 1972)
Férias Mortais (Home for the Holidays, 1972)

Também em 1972 dirigiu Férias Mortais (Home for the Holidays), um excelente suspense com Julie Harris, Eleanor Parker, Sally Field, Jessica Walter e Walter Brennan. Já em 1976 dirigiu o piloto de As Panteras (Charlie’s Angels), uma das séries mais emblemáticas dos anos 1970.

As Panteras (Charlie’s Angels, 1976)

No mesmo ano, também dirigiu Pesadelo do Acaso (Nightmare in Badham County), drama inquietante sobre duas jovens presas injustamente em uma cidadezinha do interior (filmes sobre mulheres em prisões foram muito explorados naquela década). Popular na época, o filme chegou a ser lançado nos cinemas.

Pesadelo do Acaso (Nightmare in Badham County, 1976)

Ao longo dos anos 1980, Moxey continuou dirigindo filmes para a TV e espisódios de séries como Miami Vice (1984-1989) e Magnum (Magnum, P.I., 1980-1988). Em 1989, realizou seus últimos trabalhos, dirigindo vários episódios da série de sucesso Assassinato por Escrito (Murder She Wrote, 1984-1991), protagonizada por Angela Lansbury e produzida pela CBS.

Angela Lansbury em Assassinato Por Escrito

Aposentado, faleceu em 29 de abril de 2019 em Washington, EUA, aos 94 anos, deixando uma filmografia extensa que inclui dezenas de títulos de filmes para a TV, além de inúmeros episódios de séries.

A verdade é que, embora Moxey tenha realizado trabalhos notáveis, passou a maior parte da carreira fazendo filmes para a televisão, um gênero que não é muito respeitado.

Para os iniciantes, fiz uma listinha básica com 10 de seus filmes imperdíveis. (Na verdade é só uma pequena amostra, pois são muitos os filmes e telefilmes que ele dirigiu). Alguns foram figurinhas carimbadas nos canais brasileiros durante os anos 1980 e 1990, principalmente nas madrugadas. Depois, infelizmente, desapareceram dos canais abertos. Mas vários deles ainda podem ser vistos no YouTube, no original em inglês (sem legendas) e, em menor número, dublados em português.

10 dicas de telefilmes de John Llewelyn Moxey:

  • Volte Ammie, Volte! (The House That Would Not Die, 1970)
  • Pânico e Morte na Cidade (The Night Stalker, 1972)
  • Férias Mortais (Home for the Holidays, 1972)
  • A Casa Mal-Assombrada (The Strange and Deadly Occurrence, 1974)
  • Para Onde Foram Todos? (Where Have All The People Gone, 1974)
  • Pesadelo do Acaso (Nightmare in Badham County, 1976)
  • A Fuga Eterna (No Place to Hide, 1981)
  • Morte Suspeita (Killjoy, 1981)
  • Eu, o Desejo – Uma História de Vampirismo (I, desire, 1982)
  • Perigo no Hospital (The Craddle Will Fall, 1983)
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QUEM SOU EU

Daniel Couri, formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília, fã de cultura pop e autor dos livros Made in Suécia – O Paraíso Pop do ABBA (Página Nova, 2008) e Mamma Mia! (Panda Books, 2011). 

danielcouri@obscuradoria.com.br

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